Black Lives Matter: Não pode ser apenas um movimento temporário #09

9 de junho de 2020

Lebron James não consigo respirar

Nós brasileiros somos ótimos em demonstrar atitudes nas redes sociais, a geração “hashtag e compartilha” está sempre pronta para entrar em qualquer campanha.

Há uma “massa online”, incluindo artistas e atletas famosos compartilhando sobre o movimento e que na realidade, nunca realmente se importaram ou demonstram se importar sobre esse assunto.

Será que ocorreu uma crise de consciência geral ou apenas o “já que todos estão compartilhando vou compartilhar também”.

Claro, é muito mais fácil clicar em um botão e sentir como se fizesse parte de algo, do que realmente agir na prática do dia a dia.

Movimento “Somos todos Macacos”

Daniel Alves comendo banana

Alguém se lembra dessa campanha?

Ela começou errada pelo nome um tanto quanto controverso e acabou gerando barulho, mas por pouco tempo.

O estopim desse movimento na época foi quando em 2014 na Espanha, em um jogo de futebol entre Barcelona x Villarreal o lateral brasileiro Daniel Alves foi alvo de insultos raciais.

Durante a partida, ao se aproximar da linha de fundo para cobrar o escanteio, “torcedores” do Villarreal arremessaram bananas na sua direção.

Daniel pegou uma das bananas e a comeu antes de realizar a cobrança, ignorando os torcedores racistas.

Achei sensacional. Foi uma atitude legítima pois ele viu o que estava acontecendo e agiu, ignorando os racistas como se não fossem nada.

Pouco tempo depois a mobilização morreu.

Mas por que não tivemos mais apoio das pessoas? Por que só agora?

Nem no país do futebol nós conseguimos combater casos de racismo contra um jogador como Daniel, ídolo da nossa seleção brasileira.

Foi algo tal qual George Floyd, guardado as devidas proporções, que surgiu como “símbolo” para discussões sobre temas raciais.

Apesar de Daniel não ser negro, e isso não tira a legitimidade e importância do que ele fez, sendo brasileiro e nos representando pelo mundo.

Pena que nos calamos rapidamente… é difícil entender.

Sabemos que não são casos isolados, e nem aqui no Brasil, o “país do futebol”, combatemos o racismo no futebol com o devido rigor.

Lembremos vários casos de injúria racial com torcidas dentro do Brasil e até entre jogadores! No restante da América do Sul então, nem se fala.

Na Europa toda semana surge um caso semelhante.

E qual a punição dada?

Nenhuma. Apenas algumas perdas de mando de campo, multas em dinheiro e vida que segue.

Enquanto casos forem tratados como fatos isolados, episódios como esses voltarão a se repetir.

Isso que a população americana entendeu e nós não. George Floyd é apenas mais um dos vários afro-americanos mortos por motivos raciais.

Casos extremos às vezes exigem atitudes extremas.

Se a punição fosse a exclusão do time no campeonato será que isso não resolveria?

Atitudes práticas fazem a diferença, dão exemplo.

O problema vem do alto, a CBF e CONMEBOL, duas das maiores entidades esportivas do mundo, nada fazem. São reflexos do governo e colocam política e dinheiro acima das pessoas.

Hipocrisia tomando conta

Atravessamos um momento em que a maioria das pessoas terceirizam opiniões de outras pessoas para si.

E isso é o que mais gera o efeito manada de compartilhamentos de ideias rasas.

“Se todo mundo tá postando deve ser certo”

Ou “Se fulano tá falando eu concordo”

NÃO! Não é 8 ou 80, busque sempre o meio termo. Tenha suas próprias ideias!

Algo que sempre levo para vida: Se todos estão concordando, desconfie.

Essa polarização política arrebenta a cabeça dos brasileiros que ficam numa “guerrinha” para ver quem “lacra” mais em cima do outro.

Parece uma disputa de quem fala mais bonito.

Eu cheguei a ler algumas cartilhas/manuais ensinando a combater o racismo e achei estranhos alguns tópicos do tipo “apoie artistas negros”, “se você é branco deve entrar na luta antirracista” ou “leia e assista coisas de pessoas negras” e “esse é o mínimo que você tem que saber para combater o racismo”.

Tudo isso fica muito bonito de se escrever e tal, mas não é o cerne da questão. Fazer post “lacração” é mole.

Se possuímos negros em evidência, eles serão aplaudidos como qualquer pessoa.

Temos várias personalidades brasileiras negras importantes e relevantes como o grande escritor Machado de Assis, o escultor Aleijadinho, Pelé, Jorge Benjor, Tim Maia, Elza Soares, Glória Maria e inúmeros outros…

Nós somos um país majoritariamente negro, e o desequilibro social gigante que temos, causa essa disparidade racial, deixando a população mais pobre sem perspectiva de ascensão, dependendo de vários fatores, inclusive da sorte, para ter a vida que ele sonha.

Carreiras como engenharia ou medicina funcionam quase que como uma herança, os filhos dos médicos serão médicos e filhos de engenheiro serão engenheiros e por assim vai…

E ainda tem gente que discute se cota racial é necessária. Penso que mesmo que ela tenha controvérsias, com certeza mais ajuda do que atrapalha.

E essa é a opinião de quem já foi contra as cotas. Eu fui por muito tempo a favor de readequação para cotas por renda, mas nesse momento não acho que defender isso seja relevante, temos questões mais preocupantes e prioritárias para discutir e que impactam o tema racial de forma mais dura.

Devemos falar sobre desigualdades e falta de oportunidades.

Se dermos mais oportunidades para a classe mais pobre que é majoritariamente negra, teremos mais pessoas tendo ascenção social, construindo carreira em diferentes áreas e automaticamente surgindo outras referências para os jovens negros, que não sejam apenas músicos e jogadores de futebol.

Vamos atacar o topo e não as bases

Protesto contra racismo

Como parte da “base” que sou, sendo mais um brasileiro que trabalha muito e paga seus impostos, considero que temos evoluído.

Essa nova geração, que me incluo nela, possui uma cabeça muito mais aberta e livre de preconceitos.

É difícil combater algo que esteve enraizado na humanidade por tanto tempo, mas acredito que vamos conseguir vencer essa batalha ou pelo menos mantê-la sobre controle.

Sinto que devemos atacar o topo, que são o governo, as grandes empresas e instituições, pois elas tem o poder de mudar e impactar a sociedade com muito mais força a curto prazo.

O povo, a grande massa brasileira, está preocupada em acordar cedo e pegar o ônibus para trabalhar ou estudar. Eles só querem uma vida digna e a oportunidade de crescer.

Qualquer governante que não tenha planos para diminuir a desigualdade social e melhorar a qualidade de vida das pessoas mais humildes, eu sinceramente não entendo o que ela faz em um cargo de gestão pública.

O melhor jeito de combatermos o racismo e o preconceito é dando oportunidades e perspectivas de ascensão para todos. Para que essas pessoas tenham representatividade em diferentes níveis sociais.

Não podemos por exemplo, ter menos de 5% de negros entre os formandos de medicina por ano.

É do governo e grandes instituições que as mudanças devem vir de verdade. Infelizmente a cada a ano isso parece menos provável e distante.

Apesar de certa descrença em mudanças a curto prazo, tenho ainda esperança que podemos mudar.

Acredito que a nova geração tenha um outro tipo de pensamento e torço para que pelo menos no Brasil, o racismo e preconceito acabe de vez.

_ _ _

Deixe sua opinião sobre o movimento e racismo nos comentários!

_ _ _

Por TIAGO VALENTE.

Digita e Posta #09

Deixe seu Comentário: